segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O que é o Epicurismo?

O Epicurismo é um conjunto de ensinamento que foi elaborado por Epicuro de Samos, um filósofo grego que viveu no século IV a.C.. Tinha como objetivo promover a felicidade do ser humano, por meio da apreciação dos prazeres da vida, da prudência e da libertação do medo, da ansiedade e dos desejos inúteis.

Para Epicuro, todo prazer era bom e toda dor era ruim, porém nem todos os prazeres devem ser buscados, pois trazem consigo dores maiores, assim como nem todas as dores podem ser evitadas, pois trazem consigo prazeres maiores. Por meio da prudência, o ser humano seria capaz de trabalhar pelo que é bom e evitar o que é mau, evitando as causas de sofrimento e aumentando sua felicidade. Portanto o Epicurismo não prega uma busca inconsequente e desregrada do prazer. Esse é um erro comum ao se estudar a doutrina epicurista, e também é um argumento usado por seus adversários para atacá-lo.

Os sentidos seriam a chave para obter o conhecimento do mundo. Nossa mente pode elaborar teorias e deduções, mas são os sentidos e a experiência que permitem alcançar o verdadeiro conhecimento da realidade (Empirismo). Porém, os sentidos são limitados, de modo que causas sensíveis podem provocar efeitos insensíveis e vice-versa. Através do estudo sistemático da realidade material (o que atualmente chamamos de Ciência), é possível através do que é sensível conhecer aquilo que é insensível na Natureza.

Baseado em Demócrito, Epicuro defendeu o atomismo, teoria que defende que toda matéria do Universo é formado por átomos, e que todos os fenômenos observados eram resultados da movimentação desses átomos e das interações entre eles. Não havia uma explicação para a origem dos átomos, mas se afirmava que eles possuem uma grande variedade, que existem em números incontáveis e que seu surgimento remonta há épocas muitíssimo antigas. Embora não houvesse meios de provar tais teorias na época, elas se provariam corretas, embora de modo bem diferente que o previsto por esses filósofos. Mas Epicuro foi mais além, e atribuiu aos átomos todos os fenômenos da natureza, incluindo a consciência humana. A alma (psiquê) humana também seria formada por átomos, portanto não era incorruptível, mas estaria sujeita à mudança e à destruição. A alma seria um produto da atividade do corpo, sendo que a morte causaria a sua destruição. Portanto, Epicuro não acreditava em uma vida após a morte. Ele inclusive defendia que a crença na imortalidade da alma causava muitos males ao ser humano, que passaria a temer a morte e  os possíveis castigos que ela reservava. Abandonar o medo da morte, para Epicuro, era uma condição necessária para alcançar a felicidade.

Quanto aos deuses, Epicuro via os deuses adorados pelos gregos antigos como inexistentes, nascidos do medo, da ignorância e fonte de inúmeras superstições. Afirmou que existiam de fato deuses, mas que esses em nada se assemelham aos deuses dos mitos. Os deuses seriam seres que habitariam outros planos de existência, sendo constituídos de átomos, como qualquer coisa no Universo. Porém, esses átomos seriam de natureza e organização tal que permitiriam aos deuses viver uma vida longa, prazerosa e com poucos sofrimentos. Eles não estariam relacionados aos fenômenos naturais ou à criação do Universo, mas seriam apenas outra categoria de seres vivos que habita o Universo, como as plantas e os animais. E o fato de suas manifestações serem incomuns (para não dizer inexistentes) se deveria porque eles não tem interesse pelo ser humano (visto estarem em uma condição privilegiada de felicidade), serem incapazes de interagir com nosso plano de existência (pela distância ou devido sua constituição material singular), ou mesmo por desconhecerem a existência de nosso mundo e do ser humano. Assim, os deuses não precisariam ser temidos, visto que não podem nos fazer mal e nem teriam interesse nisso. Também não precisariam ser adorados, com rituais, sacrifícios e restrições inúteis impostas aos devotos. De nada adiantaria fazer-lhes pedidos, visto que não teriam como ouvir ou agir- principalmente se fossem pedidos que os devotos tivessem condições de realizar sem auxílio divino. Eles deveriam ser vistos como seres felizes e realizados, de modo a inspirar os seres humanos a tentar alcançar esse estado de felicidade que os deuses desfrutavam.

Epicuro viajou por vários lugares, até que se estabeleceu em Atenas com sua escola de seguidores. Eles construíram um jardim, onde se praticava uma agricultura de subsistência, de modo a conseguir satisfazer as necessidades daqueles que ali viviam. Seu jardim era um convite para deixar a vida agitada da sociedade, com toda a sua pompa, suas exigências, toda sua ansiedade e artificialidade, para viver de forma pacata, sem luxos e ambições, mais próximo da natureza, trabalhando apenas para garantir seu sustento, enquanto se ocupava com a filosofia e se cultivava a amizade com aqueles que ali viviam. Epicuro propunha aos seus seguidores um estilo de vida tranquilo e simples. Para quê se aborrecer com a cobiça, a vaidade, as disputas de poder, os modismos, a busca por status e reconhecimento, se o homem precisa de tão pouco para viver e ser feliz? E Epicuro não fazia distinção entre pessoas, aceitando em sua comunidade mulheres, escravos e estrangeiros. A busca por um estilo de vida livre e autossuficiente se mostrou muito valioso, quando um cerco à Atenas montado por Demétrio resultou em escassez de comida e trouxe fome à cidade. Mas Epicuro e seus discípulos conseguiram sobreviver ao cerco, "contando os feijões". A organização em jardins e comunidades rurais foi a "marca registrada" da escola epicurista.

O Epicurismo é uma doutrina filosófica que busca promover a felicidade humana de modo prático, tentando encontrar as causas do sofrimento do ser humano e procurando no próprio ser humano a solução dos seus problemas. Estudá-lo e mesmo praticar alguns de seus princípios pode ser a chave para promover uma vida mais tranquila e feliz. A depressão e a ansiedade são conhecidas como as grandes doenças do século XXI, então o estudo da felicidade é mais urgente do que nunca. E como o próprio Epicuro disse a Meneceu: "nunca é demasiado cedo nem demasiado tarde para cuidar do bem-estar da alma. O homem que diz que o tempo para este estudo ainda não chegou ou já passou é como o homem que diz que é demasiado cedo ou demasiado tarde para a felicidade". Portanto, estudem.

Até breve.

http://filosofia-bis.blogspot.com.br/2012/02/o-jardim-de-epicuro-e-suas-nove.html

http://newepicurean.com/epicurus/gassendis-epicurus/gassendis-epicurus-part-1-life-of-epicurus/

http://criticanarede.com/meneceu.html

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