"Depois de aceitar o deus como o ser imortal e bem-aventurado descrito pela opinião popular, nada mais lhe atribuas que seja estranho à sua imortalidade ou à sua bem-aventurança, mas antes acredita acerca dele seja o que for que possa sustentar a sua imortalidade bem-aventurada. Os deuses existem realmente, pois a nossa percepção deles é clara; mas não são como a multidão os imagina, pois a maior parte dos homens não retêm a imagem dos deuses que primeiro recebem. Não é o homem que destrói os deuses da crença popular que é ímpio, mas antes quem descreve os deuses nos termos aceites pela multidão. Pois as opiniões da multidão sobre os deuses não são percepções mas antes falsas suposições. De acordo com estas superstições populares, os deuses enviam grandes males aos perversos, e grandes bem-aventuranças aos íntegros, pois, sendo sempre favoráveis às suas próprias virtudes, aprovam quem é como eles, encarando como estranho tudo o que é diferente."
Carta a Meneceu, tradução- Crítica na rede.
Sobre os deuses
Em todas as culturas há relatos de seres incomuns, que transcendem os limites da matéria comum e são conhecidos por seu poder e por terem o dom da imortalidade. Esses seres são chamados genericamente de deuses. Os deuses recebem vários nomes- anjos, demônios, djinns, orixás, elementais, devas, asuras, alienígenas, espíritos- ou podem ser chamados de deuses mesmo. Mas quem são esses deuses de fato? De onde eles vem e do quê são feitos?
1- Os deuses são feitos de matéria.
Como tudo no Universo, os deuses são corpos materiais, formado por um aglomerado de partículas menores- os átomos. Como em todo ser vivo, átomos são acrescentados, mobilizados, reorganizados e removidos. Se eles introduzirem átomos em seus corpos eles crescerão, e se removerem átomos de seus corpos eles encolherão.
2- A matéria divina é diferente da matéria comum a que acostumados.
A matéria divina possui propriedades diferentes da matéria com que lidamos no dia-a-dia. Ela oferece muito pouca resistência ao movimento. Ao ser energizada, gera campos de atração e repulsão muito mais intensos que os campos gerados pela matéria comum. Assim, precisa de muito menos energia para gerar seus efeitos. A matéria divina também pode armazenar muito mais energia que a matéria comum. Tal combinação a torna muito propícia ao surgimento de processos vitais. Mohamed (Maomé) descreveu tal matéria como "um fogo sem fumaça" (se referindo aos djinns) ou como "pura luz" (se referindo aos anjos). Mas a verdade é que o ser humano não tem termos adequados para descrevê-la, pois é muito diferente do que ele costuma experimentar no dia-a-dia.
3- Os deuses tem corpos muito especiais
Compatível com as propriedades da matéria que os constituem, os corpos dos deuses são excepcionais. Eles podem viver com baixíssimas quantidades de energia, e ao mesmo tempo são capazes de reter grandes quantidades de energia em seu corpo. Como a matéria divina é muito fluida, pode-se achar que seus corpos são frágeis e altamente propensos à desintegração. Mas a matéria divina, ao ser energizada, adquire a solidez necessária para formar o corpo divino, e em graus muito mais altos que o necessário. Assim, ao contrário de serem frágeis, seus corpos são altamente resistentes. Podem viver longuíssimos períodos de tempo fora do seu ambiente, e percorrer grandes distâncias à grandes velocidades. São altamente habilidosos para manipular a matéria divina, e se fossem como seres humanos comuns, veríamos eles fazendo proezas como erguer pedras pesadas, produzir fogo sem ferramentas e gerar clarões luminosos. Possuem sentidos desenvolvidos e memória prodigiosa, rapidamente aprendendo e quase nada esquecendo, e o pensamento também é muito veloz.
4- Eles são gerados espontaneamente
A matéria divina tem uma tendência muito forte à se organizar espontaneamente em formas vivas. Os deuses não precisam copular para obter prole (embora eles possam unir seus corpos de diversas formas para obter prazer), e são capazes inclusive de gerar prole de forma controlada, apenas manipulando matéria divina ou usando partes do próprio corpo e excreções como semente.
5- Eles tem uma vida muito longa.
Seus corpos resistentes, com poucas necessidades e muito potencial para armazenar energia, garantem que a vida deles se prolongue por eras e sobreviva à inúmeras interpéries do Universo divino. Eles possuem incrível capacidade de regeneração, e estão continuamente reciclando a matéria de seus corpos, renovando-se constantemente. Essa capacidade de renovação impede que eles envelheçam ou adoeçam.
6- Eles não são imortais
Seus corpos, contudo, não são totalmente invulneráveis. Eles podem ser cortados, esmagados, queimados, irradiados e podem até ser privados de alimento. Podem ser devorados por outros deuses e terem seus corpos digeridos. Porém, processos destrutivos exigem muita energia para serem eficazes, e a privação só surte efeito se for imposta por longuíssimos períodos de tempo, e é impraticável, pois uma migalha de alimento divino é suficiente para recompor a energia dos deuses. Contudo, se a sede da consciência for atingida (o equivalente ao cérebro humano), é possível destruir a personalidade deles e as suas memórias. Caso o corpo sobreviva, ele irá se regenerar e criará uma nova consciência, dando origem a um deus novo.
7- Eles são muito antigos.
A vida precisa de muitas condições específicas para surgir na matéria comum, condições que levaram bilhões de anos para surgir e que estão restritas à poucos lugares no Universo comum. E as formas que aqui surgem precisam de muita energia para se manterem, e sofrem muitas influências negativas, tendo dificuldades para se manter por longo tempo. Mas a matéria divina rapidamente se organiza em formas vivas, que tendem à se perpetuar.
8- Eles evoluem, e rapidamente.
Quando um deus nasce, ele rapidamente adquire consciência do meio ao seu redor. Ele começa procurando alimento, mas como se satisfaz muito rapidamente, perde a motivação para procurar comida e entra em repouso. Como não precisa dormir, ele assume uma atitude contemplativa, e aprende rapidamente sobre o si mesmo e o seu ambiente. Ao encontrar com outro deus, não precisa agir com violência, pois não precisa tirar nada do outro para seu sustento (embora os deuses mais jovens possam ser violentos e competitivos). Ele se aproxima dos seus semelhantes e se aglomera, formando uma massa numerosa de deuses. Diante dessa massa surge a comunicação, o aprendizado das línguas divinas (que são muitas), a troca de aprendizados, tudo de forma muito rápida. Em um tempo difícil de mensurar para os padrões humanos (em dias, talvez mesmo horas e minutos), eles estão totalmente amadurecidos.
9- Eles não temem a morte
Instinto de sobrevivência é algo inútil para um ser imortal. É uma experiência tão rara e tão fácil de evitar que a maioria nem pensa ser possível morrer. E como sabem que a morte em si é o fim de qualquer experiência, não a temem, pois sabem que nada de mal os aguarda depois dela.
10- Sua atividade mental pode ser totalmente dirigida para o lazer, a arte e a reflexão.
Pois não precisam resolver problemas concretos para sua sobrevivência. Assim atingem o nível intelectual humano e o ultrapassam muito rapidamente.
11- Eles não possuem tecnologia
Não precisam dela. Seu corpo e sua mente lhe proporcionam tudo que precisam para viver no meio divino. A necessidade é a mãe da invenção, e nada há no universo divino que detenha a vontade dos deuses.
12- Eles são felizes
Pois não passam necessidades, não temem a morte, e conseguem com facilidade o que desejam.
13- Não podem atuar diretamente no mundo comum
O custo energético da atuação no mundo comum é proibitivo. Sua matéria é tão sutil que não poderiam erguer uma pedra
14- Só podem atuar no mundo agindo na mente dos seres vivos
- gerando impressões sensoriais e pensamentos, guiando movimentos e, em casos extremos, se apoderando da vontade do ser vivo.
15- A maioria dos deuses não interfere na vida humana.
Pois não precisam disso, nada ganham com isso, e no mundo divino possuem coisas muito mais interessantes para fazer. Além disso, a intervenção exige muita inteligência, exige o afastamento do plano divino, e exige muito estudo do espécime humano e dos seus mecanismos cerebrais. Além disso, o gasto energético para fazer isso é muito alto, embora menor do que tentar modificar objetos inanimados.
16- E aqueles que interferem o fazem por motivos próprios e de forma pouco consciente.
A maioria apenas observa os seres humanos, por curiosidade. Se ajudam, é porque querem ajudar, e o fazem por pouco tempo. E se fazem mal, fazem por brincadeira ou por zombaria. E em todos os casos, eles o fazem por pouco tempo, pois perdem o interesse muito rápido e logo voltam para o plano divino.
Tipos de deuses:
- Primordiais: deuses jovens, concebidos espontaneamente pela matéria divina. Geralmente representados como filhos do caos, ou deuses caóticos. São movidos por impulsos mais simples. São semelhantes aos Titãs da mitologia grega. Podem ser controlados por outros deuses.
- Devoradores: Geralmente derivados dos primordiais, são muito vorazes, consumindo bastante energia divina, e até agressivos, tentando devorar outros deuses menores. Possuem mentalidade limitada e são dominadores. Eventualmente acabam regurgitando o alimento e os deuses devorados. Também podem liberar energia de forma explosiva, percorrendo enormes distâncias em curto espaço de tempo, mudando aleatoriamente sua localização no espaço. Se entram em contato com seres vivos comuns, podem ficar curiosos e passar a estudar e interferir em seus processos mentais, embora de forma limitada, porque precisam retornar ao plano divino para se alimentar
- Obsessores: Deus que desenvolveu interesse intenso por seres vivos do plano terreno. Pode ser de qualquer tipo, embora comumente sejam do tipo devorador ou rejeitado. Pode ter um interesse mais generalista, ou então focar em indivíduos em particular. Geralmente são jovens e com pouco contato com outros deuses e com o plano divino. Costumam perder o interesse como tempo e principalmente quando começam a interagir com outros deuses.
- Deuses amadurecidos: deuses que adquiriram inteligência. Não são vorazes e nem agressivos, e se comunicam intensamente com outros deuses- desse modo inconscientemente educam os deuses mais jovens e aceleram o amadurecimento deles. É a fase mais avançada da evolução divina. Todos os seus atos são deliberados, e não são controlados por agentes externos. E de modo geral não interferem na vida humana. São os exemplares mais felizes da espécie, e do universo.
- Deuses rejeitados: são formados por partes de outros deuses que foram extirpadas por serem consideradas indesejáveis. Essas partes podem adquirir consciência. Por serem formados por qualidades negativas, eles representam o tipo mais problemático de deus. Porém, são também passiveis de amadurecimento.
- Deuses concebidos: são criados por outros deuses, por meio de combinações e replicações de traços de personalidade e de memórias. Podem ter algo grau de maturidade, ou serem criados imaturos. podem ser concebidos involuntariamente, ou com um propósito.
Fenômenos que ocorrem no plano divino
- Canibalismo: geralmente apenas partes dos deuses são devoradas. Quando um deus é engolido, ele precisa se defender do processo digestório do seu predador. Se for forte o suficiente, ele forçará sua saída sem grandes danos. Se não for forte o suficiente para sair, ele pode formar uma casca, protegendo a sede da sua consciência e adormecendo. Nessa condição ele perde grande parte da sua substância para o devorador, mas se protege da destruição e poderá se recompor novamente quando for removido do corpo do devorador. Agora, se o deus for fraco ou não resistir ao processo de digestão, sua consciência será digerida e ele deixará de existir. É comum partes da consciência devorada serem assimilados pela consciência do devorador.
- Auto-imolação: se um deus voraz consumir muita matéria divina, ele poderá sofrer um processo de ruptura, liberando essa matéria, geralmente causando o nascimento de outros deuses, ou de uma matéria muito mais nutritiva e propícia para a concepção divina. Nessas situações, raramente o deus é destruído ou morto, embora isso seja possível. Deuses devoradores, ao se romperem, podem liberar as vítimas devoradas que resistiram à digestão.
- Fusão: dois ou mais deuses se unem. Se as sedes de consciências se fundirem, a união será irreversível e um novo deus surgirá, contendo memórias dos deuses originais.
- Fissão: é o processo reverso ao da fusão. A fissão de consciência pode ser involuntária, quando o deus acumula muitas memórias e precisa se desfazer delas, quando eles são tomados por emoções fortes, ou quando ele sofre algum tipo de trauma físico. Ou pode ser usada pelo deus para se aprimorar e remover memórias e traços de personalidade indesejáveis. Nesse caso há uma chance de o produto rejeitado adquirir consciência própria e se tornar um deus rejeitado.
- formação de sociedade: deuses são seres naturalmente gregários. Eles se juntam em grandes números e elegem líderes para si. Podem até fazer guerras, tentando destruir ou devorar os oponentes, embora via de regra busquem não tenham motivo para batalhar e prefiram a negociação com o oponente. Mas essas sociedades de modo geral são pacíficas. Os deuses se envolvem em muitos passatempos coletivos, como esportes de todos os tipos, jogos mentais, música, poesia e narrativas, e também desfrutam do contato corporal com outros deuses.
Os relatos de batalhas mitológicas são derivados de batalhas que ocorreram no plano divino. Essas batalhas são eventos raríssimos, pois os deuses não possuem nenhuma necessidade forte o suficiente para impelí-los à guerra. Guerras geralmente são provocadas por deuses imaturos ou rejeitados, mas estes perdem seu temperamento agressivo após a maturidade. Suas durações e consequências, em termos divinos, são muito inferiores às guerras humanas.
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