"Queres ser rico? Pois não te preocupes em aumentar os teus bens, mas sim
em diminuir a tua cobiça."
"A riqueza que é conforme à Natureza tem limites e é fácil de encontrar, mas a imaginada pelas opiniões vãs não têm limites e é difícil de adquirir."
"Os insensatos nunca estão satisfeitos com o que têm, mas afligem-se com o que não têm. Eles ficam inchados de orgulho na prosperidade, mas abatidos na adversidade."
"A quem não basta pouco, nada basta."
Frases atribuídas a Epicuro.
Epicuro pregava e vivia um estilo de vida simples, buscando garantir pelo trabalho o que fosse necessário e evitando se envolver com causas potenciais de perturbação. Ele adquiriu um Jardim em Atenas, e dentro desse Jardim, junto com seus discípulos, ele cultivava alimentos para a sua subsistência e da sua Escola. Ele não ambicionava grandes riquezas e não tentou estabelecer sua Escola com o apoio de pessoas poderosas. Pelo contrário, ele evitava o envolvimento com o poder e a política.
Epicuro via os bens materiais como causas importantes de perturbação e infelicidade para o homem. Era considerado justo que o ser humano lutasse e trabalhasse para assegurar sua sobrevivência e satisfazer suas necessidades básicas (comida, abrigo, companhia, remédio para o corpo e filosofia para a alma) e da forma mais livre possível. Porém, ele considerava contraprodutivo o trabalho voltado para a aquisição de bens supérfluos: comidas refinadas, roupas caras, jóias, muitos servos e escravos (ele tinha poucos, e os tratava bem, até lhes ensinava), muitas riquezas acumuladas, além de prestígio, fama, poder, sucesso etc. Os problemas de tentar alcançar essas coisas são esses: elas não são necessárias; elas motivam a competição e o conflito; os indivíduos põem a si mesmo e aos bens que já possui em risco para obtê-las; e, uma vez obtido, o indivíduo precisa se esforçar para que o bem conquistado não se perca ou lhe seja tomado. Tudo isso gera ansiedade, insegurança e sofrimento ao indivíduo, dificultando sua busca pela felicidade.
Isso quer dizer que Epicuro era contra a riqueza? Não exatamente. Epicuro era contra o amor pela riqueza, um amor que motiva o homem a causar mal a si mesmo e ao próximo. O modo de vida epicurista não exclui a possibilidade de o indivíduo ser trabalhador, produtivo e acumular riquezas. Isso na verdade é até bom, pois livrará a pessoa e seus entes queridos de muitas necessidades. Mas quando alguém tem consciência que não precisa acumular riquezas para ser feliz, ele não tem motivos para ser ganancioso, avarento nem para tentar enriquecer de modo desonesto ou às custas de outras pessoas.
Essas afirmações ficariam muito vagas se eu não apresentasse exemplos concretos. Como eu não sou rico (ainda), irei apresentar um exemplo de pessoa rica que conseguiu associar riqueza com felicidade: Sílvio Santos. Esse homem, filho de imigrantes nascido no Rio de Janeiro, conseguiu construir um império no setor de telecomunicações do Brasil, o que atualmente conhecemos como canal SBT, e é conhecido por distribuir muitos prêmios aos seus espectadores. Eis um vídeo dele, de 1988, no qual ele expõe o que parece ser sua filosofia de vida, ao mesmo tempo em manda um recado a um colega de profissão, Roberto Marinho:
Ele fala sobre os prós e os contras de se administrar uma família e uma empresa e sobre o que é necessário para o ser humano (emprego, casa, comida, médico, escola para os filhos). Também questiona a ambição e a cobiça perante à perspectiva de uma vida que inevitavelmente acaba. Esse vídeo foi gravado há quase 30 anos, mas tudo indica que Sílvio não mudou nesse aspecto e continua sendo uma pessoa digna e respeitável. A filosofia que ele expõe é um exemplo de sabedoria universal que transcende qualquer limite de dogmas, religiões ou convicções pessoais. É uma filosofia prática e ao mesmo tempo simples, como Epicuro procurava ensinar e seguir. E tanto as palavras de Sílvio, como suas atitudes nos mostram que a riqueza e a fama não são obstáculos para a felicidade humana nem para a construção de um ser humano preocupado com o bem-estar do seu próximo. Basta não se deixar dominar por isso e saber reconhecer o que verdadeiramente é importante.
Até breve.
Fonte: Entrevista com Epicuro, de Válter Borges
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