Decidi fazer uma experiência. Percebi que produzo mais em textos de whatsapp que no blog (que por sinal fica abandonado por meses). Estou em grupos de discussão sobre política, religião, filosofia e demais temas polêmicos. Se eu postar algo interessante nos grupos postarei aqui também. Não adotarei critérios tão rígidos de citações ou bibliografia como fiz anteriormente. Os conteúdos também terão uma variedade maior. Bom, Epicuro não se importaria com tal intromissão, visto sua paixão pela filosofia de modo geral.
No diálogo Eutífron, o personagem que dá nome ao texto define "piedade" (ou justiça ou bem) como "fazer aquilo que agrada os deuses". O curso do diálogo, repleta de interrogações feitas por Sócrate (cujas respostas não são esgotadas no diálogo) me levaram a propor os seguintes questionamentos (alguns explicitados no próprio diálogo:
- Algo é justo quando agrada aos deuses? Ou os deuses se agradam de algo porque essa coisa é justa?
- no primeiro caso, se os deuses se agradarem com algo mau, ele passa a ser justo? Se sim, o conceito de justiça sempre muda conforme a vontade divina. Se não, isso significa que os deuses podem agir injustamente.
- no segundo caso, se a justiça não é determinada pelos deuses, então o que determina o que é justo? E como os deuses fazem para saber o que é justiça? Teriam eles uma qualidade para compreender a justiça diversa do ser humano?
- se dois deuses discordarem a respeito do que é justo, como julgar qual deles está certo? Se usarmos um critério extradivino já estaremos admitindo que a justiça é algo exterior aos deuses, ou que o relato divino não é um meio exclusivo para se conhecer a justiça.
- Aos monoteístas, que só acreditam em um Deus, a dúvida anterior não faz sentido. Mas podemos questionar o seguinte: se dois relatos discordantes forem atribuídos à mesma Divindade, como reconhecer qual deles é o mais justo? Uma vez que ambos os relatos são considerados divinos, pelo menos um deles estaria incorreto, mesmo que parcialmente.
- E se só temos um relato divino sobre o que é justo, ainda assim poderíamos ou deveríamos submeter esse único relato à um julgamento? Ou seria mais justo seguir o comando divino sem realizar questionamentos?
- Seria possível ao ser humano conhecer o que é justo sem se comunicar com os deuses? Se sim, que meios ele poderia usar para esse fim?
- Os deuses sempre comunicam aos homens o que é justo? E se o comunicam, sempre o fazem de forma clara? Se não o fazem, por quê se omitem?
- Os deuses sempre agem de forma justa? Ou eles podem agir injustamente?
- supondo que a capacidade divina de conhecer a justiça é superior à do ser humano, isso significa necessariamente que ela é ilimitada? Ou mesmo a divindade teria limitações nesse sentido? Se ela for limitada, isso não abriria espaço para uma ação humana que contrarie a justiça divina? (A maioria dos monoteístas considera que Deus tem uma capacidade de justiça ilimitada)
- Ter conhecimento ilimitado sobre a justiça é suficiente para assegurar uma ação justa? Ou é possível um deus agir de forma injusta propositalmente?
- se a capacidade humana de conhecer a justiça é limitada, seria "justo" por parte do ser humano emitir juízos definitivos sobre o que é justiça? E o fato de não poder conhecer plenamente a justiça de uma ação poderia ser usado para condenar ou justificar essa ação?
- Se justificamos uma ação por conta da ignorância, essa ação se torna mais justa? Se sim, haveria vantagem em tentar aumentar nosso conhecimento sobre o que é justiça?
Assim como o diálogo, deixo essas questões em aberto para o leitor.
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