domingo, 24 de setembro de 2017

Retorno à proposta original e anúncio de um novo Blog

No post Eutifron- diálogo de Platão eu dei início a uma experiência no blog, postando diálogos de que eu participava no Whatsapp. Rapidamente percebi que a produção de material do blog aumentou drasticamente (em um intervalo de 12 dias efetuei seis postagens, sendo que por muito tempo esse blog não tinha postagens novas). Para evitar que o conteúdo das postagens destoasse do propósito original desse blog, criei uma nova página, Filosofia no Whatsapp. Lá vocês poderão encontrar as postagens das conversas que eu tenho virtualmente, e uma ou outra postagem aleatória sobre temas que eu julgar pertinentes. Quanto a esse blog, manterei sua proposta original, postando somente temas direta ou indiretamente relacionados ao Epicurismo. Sou obrigado a reconhecer que o pensamento filosófico evoluiu muito desde aquela época, e que a doutrina epicurista pura já não responde os problemas atuais da forma que respondia em sua época. Porém, ela ainda assim pode ser fonte de reflexões muito interessantes sobre a busca pela felicidade, e mesmo possuindo milênios de idade ainda possui lições valiosas para nos ensinar.

Por ora concentrarei meus esforços no blog novo que criei, mas é bom conferir essa página de vez em quando. Pode ser que uma hora ou outra eu poste novos conteúdos aqui. Também tenho muitos rascunhos que pretendo postar quando estiverem melhor elaborados. Dito isso, espero que tenham uma leitura agradável e fico aberto a comentários e sugestões. Até breve.

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Um defensor da Terra Plana questiona a existência dos planetas

Resposta a um terraplanista que questiona a existência dos planetas:

"Como não é o caso [a terra é redonda e os planetas existem], as representações da terra como plana não podem ser interpretadas literalmente. Deve-se buscar um significado alegórico, simbólico.

Uma terra esférica em um sistema solar heliocêntrico não descarta uma posição importante do ser humano no Universo, nem descarta um interesse de Deus pelo ser humano em particular.

Quanto à existência de vida em outros planetas, seria muito estranho um Deus tão poderoso criar bilhões de estrelas no universo e só criar a vida em um mundo específico no Cosmos.

Giordano Bruno defendia que existiam vários mundos habitados no Universo, não só a Terra."

sábado, 16 de setembro de 2017

Discussão aleatória sobre o que é Filosofia

Interlocutor 1: A Filosofia sim, provoca, queima o coco mesmo, lhe obriga a ser e extrair o melhor de si, a razão queima a carne, rasga a alma, se não é a história do continho de fadas, do passarinho verde

Interlocutor 2: A filosofia se expande alem do lado fisico . A filosofia faz voce pensar em tudo com olhares mais profundo e com intensa curiosidade das coisas existenciais e espirituais até

Interlocutor 3: A filosofia é a ciência mais exata. Pois há três pontos de estudo do objeto que é o ser humano. À área central de estudos  epistemológica. É como ver o vento a filosofia. Por isso, poucas pessoas conseguem entende-la...

Interlocutor 1: A Filosofia é a essência se td ao meu ver, por exemplo, se alguém me chama de idiota, n me ofende, sei q eu o sou, pq sabemos q idiota é aquele e olha para o seu próprio umbigo, e qm n é assim, o q fazemos é: a partir do momento q adquirimos consciência q somos assim, começamos a lutar contra nós mesmos para n o ser ou não ser conpletamente...

Interlocutor 2: Se a filosofia é  baseada no principio vital de buscar o desconhecido por meios indagativos é de se concluir que ela gerou a ciencias que existiam no passado remoto e a evoluçao cientifica que temos hoje

Interlocutor 4: A função dela é problematizar, encontrar problemas. De modo que, muitas vezes seu produto não é uma resposta, mas novas perguntas

Interlocutor 5: Todos nós temos uma concepção filósofica, diferentemente um do outro. Ou seja concepção de mundo

Interlocutor 4: Visões de mundo possuem outros elementos alem dos filosóficos . É difícil ter unanimidade na filosofia. Mas é possível estabelecer acordos pra viabilizar a discussão e as trocas de ideias

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Kant, Razão Pura e Akribeia

Citação de Kant, Crítica da Razão Pura, Introdução, subseção III

"Há uma coisa ainda mais importante que o que precede: certos conhecimentos por meio de conceitos, cujos objetos correspondentes não podem ser fornecidos pela experiência, emancipam-se dela e parece que estendem o círculo de nossos juízos além dos seus limites.

Precisamente nesses conhecimentos, que transcendem ao mundo sensível, aos quais a experiência não pode servir de guia nem de retificação, consistem as investigações de nossa razão, investigações que por sua importância nos parecem superiores, e por seu fim muito mais sublimes a tudo quanto a experiência pode apreender no mundo dos fenômenos; investigações tão importantes que, abandoná-las por incapacidade, revela pouco apreço ou indiferença, razão pela qual tudo intentamos para as fazer, ainda que incidindo em erro.

Esses inevitáveis temas da razão pura são: Deus, liberdade e imortalidade. A ciência cujo fim e processos tendem à resolução dessas questões denomina-se Metafísica. Sua marcha, é, no princípio, dogmática; quer dizer, ela enceta confiadamente o seu trabalho sem ter provas na potência ou impotência de nossa razão para tão grande empresa."

Interlocutor 1: interessante a critica de kant...mais no fim a ciência trabalha com as provas e a Religião com a fé.
A razão é da Ciência  mais essa observação cabe fazer apenas aqueles que tem uma boa observação.

Eu: Kant não fala da razão empírica, própria do método científico , mas da razão pura, sem os dados empíricos. Ele está tentando justamente demonstrar os limites da razão pura pra alcançar o conhecimento. Nesse caso não está sendo debatido a fé.

Interlocutor 1: 👍

Eu: "É sinal de um espírito cultivado não exigir de um objeto mais exatidão (Akribeia) do que o que o objeto exige". Aristóteles, Ética à Nicômaco.

Matemática é uma ciência exata. Portanto seus resultados devem ser exatos. As ciências naturais exigem a verificação por meios empíricos. Quanto mais verificado for uma teoria científica, mais validade ela tem. Já as ciências humanas (ética, política, psicologia...) não permitem tal exatidão. O que não quer dizer que nenhuma verdade é possível por meio dessas ciências, ou que não se pode descartar certos erros por meio delas.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Stephen Hawking, Ciência e Sentido da Vida

Interlocutor 1: Alguém aqui consegue explicar em termos bastante simples pra leigos qual foi a contribuição de Hawking para a compreensão do início do universo? E pq a teoria dele é conhecida como a teoria de tudo?

Eu: [após uma rapida consulta à Wikipedia] Ele conciliou parcialmente a teoria da relatividade geral com a física quântica. Isso produziu um modelo teórico que consegue explicar como as partículas quânticas surgiram após o Big Bang. Os cálculos dele permitem calcular a velocidade de expansão do universo e, fazendo o movimento reverso, determinar o momento do Big Bang. Ele também conseguiu elaborar teorias que explicam alguns fenômenos relacionados aos buracos negros, como a emissão de energia  (coisa que em um primeiro momento parece contraditório).
Hawking é filosoficamente um tanto restrito. Ele acha que o método científico será capaz de responder a todas as questões filosóficas, o que acho pouco provável. Quero ver se a ciência poderá descobrir o sentido da vida, por exemplo. Seu pensamento lembra Carnap, do círculo de Viena.

Interlocutor 1: E a vida tem sentido? Ou sentido absoluto? Esse lance de "sentido da vida" ja partiu do pressuposto de que as coisas têm propósitos determinados

Eu: Não realmente. É difícil falar em um sentido original, mas o ser humano tem poder pra criar seu próprio sentido. Mas que meio ele deve usar pra criar esse sentido? Um puramente científico? Um puramente filosófico? Uma mistura dos dois?
Eu acho que a ciência pura não dá conta dessa tarefa. Um pouco de filosofia é necessário para a elaboração do sentido.

Interlocutor 1: Quase todas as buscas de sentido humano são estabelecidos claramente por preceitos biológicos
O Maslow elencou a pirâmide das necessidades... Necessidade de provisões, de segurança, relacionamento social, afetivo e realização pessoal.... Se vc parar de romantizar muito, perceberá q o ser humano é bem superficial

Eu: O fundamento do ser humano é biológico, mas os fenômenos que isso origina podem extrapolar a biologia. Envolvimento afetivo, por exemplo. Por que algumas pessoas se contentam com um relacionamento físico e outras buscam algo mais? E realização profissional, porque isso varia tanto de pessoa a pessoa? É possível considerar só variáveis biológicas pra definir o que realiza un ser humano? Ou precisamos usar outras informações, como dados biográficos, históricos, reflexões de cunho filosófico? E o senso estético? Por que o ser humano se sente atraído por formas particulares de percepção sensorial ou de estruturas narrativas? A biologia basta pra explicar isso? Ou é necessário algo mais? E isso é perfeitamente compatível com uma visão materialista de mundo, físico-biológica. Aí pergunta: pode a física e a biologia resolver todos esses problemas?

Interlocutor 1: O ser humano busca algo mais com relação a relacionamentos pq estamos em média condicionados a isso biologicamente.... li artigos que relacionavam isso com o senso de preservação, a afetividade nos dá sensação de proteção e segurança. Temos tbm um instinto inovador.... ou seja, não gostamos do tédio ou de mesmices... buscamos incessantemente experimentar sensações novas.
A variação de pessoa pra pessoa ocorre por dois motivos. Primeiro pq cada organismo vivo é biologicamente diferente de tudo oq já existiu e cada indivíduo experimenta um horizonte de sentido ambiental diferente, e isso formata a foma como o nosso organismo é estruturado em essência. Então temos dois arranjos singulares aqui.... um espaço único no mundo do ambiente (cada indivíduo vê coisas diferentes, sob ângulos diferentes, tem experiências únicas) e nosso organismo é organizado de maneira única
Experiência profissional já falei sobre, tbm o senso estético... acho q é isso.
ntão, claro q temos uma árvore cheia de milhares de pequenas raízes... então é tudo muito complexo. Mas acho q no fim-último, tudo converge nessa direção

Eu: eu ainda acho que a biologia é meio limitada. É certamente o ponto de partida, mas não parece ser um ponto de chegada obrigatório

Interlocutor 1: Me parece que é ambas, dentro de nosso escopo.... o ser humano é muito instintivo, como as demais espécies. E temos múltiplos instintos.... grande parte deles provocando incontáveis males ao indivíduo... oq evidencia que a estruturação corpórea da nossa espécie não é direcionada. Somos oq somos por uma cadência de eventos aleatórios.... alguns propiciaram características vantajosas e outras nem tanto....

Agostinho sobre a Interpretação das Escrituras

Agostinho de Hipona- *De Doctrina Christiana:*
Hermenêutica Bíblica, interpretação do texto sagrado

Baseado no comentário de Noeli Dutra Rossatto, "Agostinho Educador"

- Regra de Ouro da Hermenêutica: “ _tudo quanto na Divina Palavra não puder ser referido em sentido próprio nem às honestidades dos costumes nem às verdades da fé tem que ser tomado em sentido figurado_

3 regras adicionais da interpretação da Escritura:
- Não admitir interpretações que conduzam ao mal ou à iniquidade;
- não admitir passagens improváveis do ponto de vista material (ex: após a criação todos os animais comiam frutos e ervas). _Tal afirmação é pró-científica_(adendo meu)
- não admitir que a ausência de uma afirmação do positivo conduza a uma conclusão para o negativo.

A necessidade ética e as verdades da fé não estão contidas abertamente no texto bíblico. Por isso a importância da tradição da Igreja para orientar a interpretação do texto (segundo Agostinho)

sábado, 9 de setembro de 2017

Eutífron- diálogo de Platão

Decidi fazer uma experiência. Percebi que produzo mais em textos de whatsapp que no blog (que por sinal fica abandonado por meses). Estou em grupos de discussão sobre política, religião, filosofia e demais temas polêmicos. Se eu postar algo interessante nos grupos postarei aqui também. Não adotarei critérios tão rígidos de citações ou bibliografia como fiz anteriormente. Os conteúdos também terão uma variedade maior. Bom, Epicuro não se importaria com tal intromissão, visto sua paixão pela filosofia de modo geral.

No diálogo Eutífron, o personagem que dá nome ao texto define "piedade" (ou justiça ou bem) como "fazer aquilo que agrada os deuses". O curso do diálogo, repleta de interrogações feitas por Sócrate (cujas respostas não são esgotadas no diálogo) me levaram a propor os seguintes questionamentos (alguns explicitados no próprio diálogo:

- Algo é justo quando agrada aos deuses? Ou os deuses se agradam de algo porque essa coisa é justa?

- no primeiro caso, se os deuses se agradarem com algo mau, ele passa a ser justo? Se sim, o conceito de justiça sempre muda conforme a vontade divina. Se não, isso significa que os deuses podem agir injustamente.

- no segundo caso, se a justiça não é determinada pelos deuses, então o que determina o que é justo? E como os deuses fazem para saber o que é justiça? Teriam eles uma qualidade para compreender a justiça diversa do ser humano?

- se dois deuses discordarem a respeito do que é justo, como julgar qual deles está certo? Se usarmos um critério extradivino já estaremos admitindo que a justiça é algo exterior aos deuses, ou que o relato divino não é um meio exclusivo para se conhecer a justiça.

- Aos monoteístas, que só acreditam em um Deus, a dúvida anterior não faz sentido. Mas podemos questionar o seguinte: se dois relatos discordantes forem atribuídos à mesma Divindade, como reconhecer qual deles é o mais justo? Uma vez que ambos os relatos são considerados divinos, pelo menos um deles estaria incorreto, mesmo que parcialmente.

- E se só temos um relato divino sobre o que é justo, ainda assim poderíamos ou deveríamos submeter esse único relato à um julgamento? Ou seria mais justo seguir o comando divino sem realizar questionamentos?

- Seria possível ao ser humano conhecer o que é justo sem se comunicar com os deuses? Se sim, que meios ele poderia usar para esse fim?

- Os deuses sempre comunicam aos homens o que é justo? E se o comunicam, sempre o fazem de forma clara? Se não o fazem, por quê se omitem?

- Os deuses sempre agem de forma justa? Ou eles podem agir injustamente?

- supondo que a capacidade divina de conhecer a justiça é superior à do ser humano, isso significa necessariamente que ela é ilimitada? Ou mesmo a divindade teria limitações nesse sentido? Se ela for limitada, isso não abriria espaço para uma ação humana que contrarie a justiça divina? (A maioria dos monoteístas considera que Deus tem uma capacidade de justiça ilimitada)

- Ter conhecimento ilimitado sobre a justiça é suficiente para assegurar uma ação justa? Ou é possível um deus agir de forma injusta propositalmente?

- se a capacidade humana de conhecer a justiça é limitada, seria "justo" por parte do ser humano emitir juízos definitivos sobre o que é justiça? E o fato de não poder conhecer plenamente a justiça de uma ação poderia ser usado para condenar ou justificar essa ação?

- Se justificamos uma ação por conta da ignorância, essa ação se torna mais justa? Se sim, haveria vantagem em tentar aumentar nosso conhecimento sobre o que é justiça?

Assim como o diálogo, deixo essas questões em aberto para o leitor.